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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A CRIANÇA QUE FUI CHORA NA ESTRADA

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

A criança que fui chora na estrada” é um soneto (2 quadras e 2 tercetos) de versos decassilábicos, com o esquema rimático abab, baba, cdc, dcd, em que constam rima cruzada, interpolada e emparelhada. O ritmo é proporcionado por frases complexas e pontuação não excessiva, mas necessária.
O tema do poema baseia-se na infância, na nostalgia do bem perdido e do mundo fantástico da infância, que provoca angústia existencial, entre outros sentimentos. Pode ser dividido, conforme a interpretação, em duas partes:

1 – Sentimento e querer/vontade do sujeito poético em que se fala, na 1ª quadra, da nostalgia da infância, e, na 2ª quadra, sobre a estagnação psicológica por não encontrar a infância.

2 – Condição/possibilidade de conseguir observar a infância perdida através do presente e, ao vê-la, poder recuperá-la ou encontrar um pouco dela em si.

Versos 1 e 2 Oposição temporal (Passado – Presente). A infância não desapareceu por completo, apenas está submersa na pessoa que é agora, à espera de ser recuperada, já que o indivíduo decidiu ser diferente e abdicar dela; porém, a criança, que deveria ser feliz, chora, ou seja, representa sofrimento e abandono indevido.

Versos 3 e 4 O poeta sente-se descontente por não ser mais do que é, deseja regressar ao tempo onde foi feliz e voltar a ser criança que não pensa, só sente.

Versos 5 – 8 Mesmo assim, há quem erre ao tentar regressar ao passado e não consiga inclusive alcançar um pouco da criança que há em si, acabando na ignorância, sem saber de onde veio, nem onde está. Representa a estagnação e a ausência de felicidade, já que só existe a dúvida e não pode sentir nem progredir.

Versos 9 – 14 Caso seja possível relembrar aquilo que se esqueceu observando o passado, sem sair do presente, poderá, pelo menos, perceber quem é agora, visto que não é aquilo que foi (já não é a tal criança). Assim, verá ao longe (na memória e nas recordações) quem foi, podendo encontrar na sua imagem presente a influência (ou até mesmo parte) da imagem do passado.

GRAMÁTICA

· Frases negativas e declarativas com vocabulário simples. Uso dos verbos copulativos (ser, estar, ficar, ir) – demonstram a dúvida do sujeito poético ao longo do poema, já que colocam em evidência a oposição temporal.

· Oposição temporal: Neste poema, a grande especificidade da gramática observa-se na frequente utilização do pretérito perfeito, do presente e do futuro, que criam uma ligação e dificuldade em criar um distanciamento psicológico e divisão total desses momentos (ou seja, estão interligados), sugerindo a indecisão do sujeito poético quanto ao seu percurso temporal.

RECURSOS ESTILÍSTICOS

· Repetição do verbo “ser” (vv. 2, 3 e 4) – intensifica a angústia existencial do sujeito poético e a busca pela resposta à pergunta chave “quem sou?”.

· Repetição de “ao menos”(vv. 9 e 12) – intensifica a ideia de um mínimo que foi estabelecido como objectivo e que se espera que aconteça.

· Interrogação retórica “como hei-de encontrá-lo?” (vv.5) – A resposta é dada pelo poeta ao longo do poema: não há como encontrá-la pois falhou o regresso e, assim sendo, a pergunta pretende apenas criar uma aproximação do receptor e reforçar a ideia da vontade de encontrar a infância perdida, a qual pode ser encontrada, caso se descubra como e não se erre ao regressar a esses tempos.

· Pleonasmo “erra a vinda = regressão errada” (vv. 5/6) – Reforça a ideia frustrada de voltar à infância perdida através da repetição do mesmo significado com diferentes significantes.

· “alma parada” (vv.8) – É o próprio sujeito poético que parou, mas atribui tal facto à alma/coração, ao inconsciente, pois é aquilo que sente e cria as emoções do sujeito.

"Trata-se de um soneto ortónimo de Fernando Pessoa, de produção tardia, datado de 22/09/1933.

Como em muitos poemas ortónimos de Pessoa, a temática dança à volta da infância perdida e cristalizada na memória do poeta enquanto período de ouro da sua vida, em relação ao qual há sempre o desejo velado de regresso impossível.

No entanto - e isto é algo que caracteriza a escrita ortónima - não há grande grau de emoção na voz poética utilizada. É como se um grande desencanto permeasse toda a escrita de Pessoa em seu próprio nome, um desencanto que parece mesmo aproximar-se de um completo e total esvaziamento de tudo, incluindo as emoções. Pessoa é quase sempre racional, mas a sua escrita ortónima tende a tornar o racional assustadoramente vazio, plenamente vazio, o que não acontece na escrita dos seus heterónimos, que é sempre polvilhada por vislumbres de uma qualquer intenção, por muito artificial.

Análise

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

A primeira quadra do soneto serve de enquadramento à temática abordada no mesmo. Pessoa vê-se comparativamente em dois estádios diferenciados da sua vida, em "duas idades": o Pessoa adulto e o Pessoa criança. É o Pessoa adulto que escreve e que, vendo a sua dor passada, deseja-a mesmo assim, em contraponto com a sua dor presente. A frase "a criança que fui chora na estrada" resume de maneira sucinta o sentimento que o percorre - a felicidade da infância é mesmo assim uma felicidade dolorosa. Essa sobreposição "criança"/"adulto" dá a beleza ao poema, mas também o torna translúcido, como se as camadas, complementando-se, se anulassem na leitura final. Pessoa sente ter-se abandonado criança para ser adulto - nota-se aqui a noção consciente da quebra da infância em Pessoa, que na realidade aconteceu. Pessoa, vendo-se adulto, diz preferir ir ser novamente criança. Mas tal não é possível, ninguém regressa ao passado.

Ah, como hei-de encontrá-lo?
Quem errou A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Mas mesmo nessa impossibilidade, o poeta pode sonhar. Mesmo sabendo que não pode regressar. Por um lado está perdido na sua vida adulta, no outro recorda a sua infância dolorosa, que embora feliz o colocou de certo modo na situação actual. Não há escolha possível, e este impasse leva à sua "alma (...) parada".

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

A sua identidade, embora dissolvida neste intermezzo existencial, existe assim como uma névoa distante. Ele vazio em si mesmo, quando se lembra pode assumir ao menos um pouco de existência. Pode ver ao menos "um pouco de si", ao menos "saberá de si". Há um vazio - é certo - mas o vazio já não será completo, mesmo que seja doloroso. É um vazio ao menos preenchido ao longe com a promessa de poder lembrar-se do passado."

ABRA SEU CORAÇÃO

Será que já paramos pra pensar que nosso coração é como uma porta, porém sua fechadura só existe para o lado de dentro que é de onde ele pode abrir.
No dia de hoje trago a mensagem “abra seu coração” para que possamos refletir.

Reflitam!!

A sala estava repleta de convidados, todos curiosos para ver a obra de arte, ainda oculta sob o pano branco.
Falava-se que o quadro era lindo.
As autoridades do local estavam presentes, entre fotógrafos, jornalistas e outros convidados porque o pintor era, de fato, muito famoso.
Na hora marcada, o pano que cobria a pintura foi retirado e houve caloroso aplauso.
O quadro era realmente impressionante.
Tratava-se de uma figura exuberante de Jesus, batendo suavemente na porta de uma casa.
O Cristo parecia vivo. Com o ouvido junto à porta, Ele desejava ouvir se lá dentro alguém respondia.
Houve discursos e elogios.
Todos admiravam aquela obra de arte perfeita.
Contudo, um observador curioso achou uma falha grave no quadro: a porta não tinha fechadura.
Dirigiu-se ao artista e lhe falou com interesse: A porta que o senhor pintou não tem fechadura. Como é que o Visitante poderá abri-la?
É assim mesmo, respondeu o pintor calmamente.
A porta representa o coração humano, que só abre pelo lado de dentro.
* * *
Muitas vezes mal interpretado, outras tantas, desprezado, grandemente ignorado pelos homens, o Cristo vem tentando entrar em nossa casa íntima há mais de dois milênios.
Conhecedor do caminho que conduz à felicidade suprema, Jesus continua sendo a Visita que permanece do lado de fora dos corações, na tentativa de ouvir se lá dentro alguém responde ao Seu chamado.
Todavia, muitos O chamamos de Mestre mas não permitimos que Ele nos ensine as verdades da vida.
Grande quantidade de cristãos fala que Ele é o médico das almas, mas não segue as prescrições dEle.
Tantos dizem que Ele é o irmão maior, mas não permitem que coloque a mão nos seus ombros e os conduza por caminhos de luz…
Talvez seja por esse motivo que a Humanidade se debate em busca de caminhos que conduzem a lugar nenhum.
Enquanto o Cristo espera que abramos a porta do nosso coração, nós saímos pelas janelas da ilusão e desperdiçamos as melhores oportunidades de receber esse Visitante ilustre, que possui a chave que abre as portas da felicidade que tanto desejamos.
E se você não sabe como fazer para abrir a porta do seu coração, comece por fazer pequenos exercícios físicos, estendendo os braços na direção daqueles que necessitam da sua ajuda.
Depois, faça uma pequena limpeza em sua casa íntima, jogando fora os detritos da mágoa, da incompreensão, do orgulho, do ódio…
Em seguida, busque conhecer a proposta de renovação moral do Homem de Nazaré.
Assim, quando você menos esperar, Ele já estará dentro do seu coração como convidado de honra, para guiar seus passos na direção da luz, da felicidade sem mescla que você tanto deseja.
Fonte: http://www.momentosmagicos.net/reflexoes/abra-seu-coracao/#more-6475
Postado por Maria José de Azevedo

PERCEPÇÃO



Observe atentamente a figura e responda: O que você vê? Uma mulher jovem, ou outra mais idosa, ou as duas?
No texto abaixo, é possivel entender melhor o fenômeno da percepção.

Para a maioria dos profissionais em psicologia, a percepção diz respeito ao processo através do qual os objetos, pessoas, situações ou acontecimentos reais se tornam conscientes. É através da percepção que o ser humano conhece o mundo à sua volta de forma total e complexa. A percepção distingue-se da memória, porque diz respeito a acontecimentos presentes e também é diferente da inteligência e pensamento na medida em que se refere a situações concretas.

A percepção é mais um conceito em psicologia que possui diferentes considerações, a depender da abordagem teórica. Ela pode ser entendida como produto de vários elementos sensitivos ligados a experiências que o indivíduo tem anteriormente, pode ser entendida de maneira bem global, sendo irredutível às sensações, ou pode ter características tão amplas que se confunde com qualquer processo cognoscitivo. Para que o objeto possa ser percebido, ele deve se destacar do mundo fenomenológico, possuindo uma estrutura interna maior do que os outros objetos que o cercam para que se constitua uma “boa figura”, caracterizando o resto como “fundo” sobre o qual ele se destaca.

A “figura” e o “fundo” podem sofrer modificações, dependendo de diversos fatores relacionados com a percepção. A estimulação é fundamental na definição do que constitui a “figura” e no que constitui o “fundo”. Muitas vezes a passagem de “figura” para “fundo” e vice-versa acontece por causa da saturação produzida pelo sistema nervoso quando a estimulação torna-se excessiva. A atitude de um indivíduo, a movimentação do objeto, movimentação da cabeça, interposição dos objetos, tamanho relativo, perspectiva linear e o jogo de luzes e sombras também são alguns dos fatores que determinam o que se define como “figura” e o que se caracteriza como “fundo”. A percepção depende de uma série de fatores precisos, mesmo quando se trata da percepção de um movimento ilusório ou da movimentação de outro objeto que não o que realmente se move.

Autoria: Alexandre Visconti
http://www.coladaweb.com/psicologia/percepcao